Com o pé direito, Lorena entrou. Havia se preparado muito, pois há vários meses esperava por este dia. Era o dia em que embarcaria, voaria para a Inglaterra e se apresentaria para o mestrado em Cambridge, cuja vaga conseguira com muito esforço, entre as poucas para alunos estrangeiros.
Muito ouvira falar sobre viagens de aviões e pouco esperava, de modo que se surpreendeu. Já ficou logo encantada. Os quatro assentos largos, dois em cada lado, em que caberia até seu tio Jorge, que já passara muito do peso recomendado. O estofado ergonômico diminuiria as dores lombares frequentes devido às longas horas sentada. E o espaçoso bagageiro que caberia com folga sua pesada bagagem de mão.
Ela consultou o número da poltrona na passagem e a procurou na cabine. E logo o sorriso esmaeceu. Pela primeira vez, agradeceu por ser tão magra, ou de outra forma não caberia. O espaço, que no início havia sido ocupado por duas largas poltronas, agora, naquela fileira, estava ocupado por três. Pelo menos teria a janela.
Lorena colocou sua mala no bagageiro indicado cuidadosamente para que pudesse fechá-lo, e sentou, não menos contente.
Um comunicado do piloto pelo alto falante a fez colocar o cinto. Ela segurou o braço do acento, mas o avião decolou antes que percebesse.
Dentro do avião, as horas pareciam passar em uma velocidade completamente diferente. Já havia lido várias páginas de seu novo livro. A vista doía, a coluna doía, as pernas doíam, o estômago roncava e a bexiga apertava, mas ainda mão passara nem da metade das horas daquele voo.