Esta é uma história de quando eu tinha onze anos, estava na quinta
série (ou sexto ano como é chamado hoje em dia), chamo-me Alícia e este é
o meu primeiro contato com esses tipos de coisas, ao menos pelo que me
lembro. Nesta época eu ainda não ouvia nada, meus dons auditivos
apareceram dois anos mais tarde, aos treze. O que aconteceu foi muito
estranho e eu fiquei branca depois daquilo que minha irmã disse...
Tudo
começou com um relógio, um simples e inofensivo relógio – bom, pelo
menos era o que eu pensava. No ano de 2003 ou 2004 minha mãe comprou um
relógio para por no meu quarto e ser um despertador para acordar eu e
minha irmã e irmos à aula, até em tão ele parecia completamente
inofensivo.
Ele era em formato de S e laranja, lembro
bem disso, ficava na parte mais alta da mesa do computador da minha
irmã. Ficava sempre virado para o meio de nossas camas, assim tanto eu
quanto ela podíamos ver a hora. Teoricamente era para ser desse jeito, mas não exatamente como aconteceu...
Lembro
que no primeiro dia eu fui dormir e quando acordei, ele estava
completamente virado para minha irmã me impossibilitando de ver a hora.
Neste dia, pensei que tinha o deixado para a minha irmã alguma parte do
dia anterior e que me havia de virá-lo para o meio novamente, então
simplesmente levantei da cama e pus para o meio.
Porém, na noite
seguinte a mesma coisa aconteceu, quando acordei estava para minha irmã e
não para mim, fiz a mesma coisa do dia anterior um pouco descontente.
Na terceira noite, o mesmo fato se sucedeu e depois na quarta, estava
começando a ficar com raiva disso. Era desagradável acordar de manhã e
não conseguir ver a hora no relógio, ainda mais quando se acorda com a
sensação de estar super atrasada.
Não era este o caso, mas
despertava assustada pensando que não ouvira o despertador tocar e por
isso estava atrasada para ir à escola ou até que havia perdido a hora da
aula. Nessas horas, um relógio para nos acalmar é tudo o que queremos,
mesmo você estando com tanto sono a ponto de ver a hora errada, como,
por exemplo, ser seis horas da manhã e você ver sete e vice-versa.
Na
quarta noite, irritada com o acontecido nas anteriores, eu me
certifiquei de que o relógio estava virado para o meio antes de eu
dormir. Contudo, na manhã seguinte foi a mesma coisa, o relógio estava
virado para minha irmã e não para o centro de nossas camas como eu
deixara antes de dormir. Comecei a ficar intrigada e procurei motivos
racionais para isso, mas pouco eu sabia...
Formulei minha
primeira hipótese, bastava um toquezinho e o relógio caía de tão leve
que era. Em minha cabeça a culpa deveria ser do vento, ele vinha da
janela a esquerda do relógio (esquerda de uma pessoa virada de cara para
o relógio) e o empurrava para a direita, onde se encontrava a cama de
minha irmã. O vento deveria ser bem fraco, pois caso contrário o relógio
iria amanhecer tombado.
Certifiquei-me de dormir com a janela
fechada na sexta noite. Com a janela fechada, o relógio iria amanhecer
para o meio, foi assim como pensei. Mas para meu espanto, não foi
exatamente o que aconteceu, acordei com ele virado para minha irmã pela
sexta vez. Eu colocava para o centro e acordava para ela e não havia
interferência do vento de fora do quarto, isso estava me irritando.
Nas
noites seguintes aconteceu a mesma coisa, e eu acordando sempre com a
sensação de estar atrasada, era agonizante. Não sei por mais quantos
dias agüentei essa situação, havia descartado todas as hipóteses
possíveis, a única restante era a minha irmã.
Eu não queria
acreditar que fosse ela, seria muito vacilo se fosse, mas minhas
hipóteses acabaram. O vento da janela não podia ser, pois estava
fechada; o ventilador também não, pois se fosse empurraria o relógio
para o outro lado; e todas as noites antes de eu ir dormir, eu
assegurava a posição do relógio para o corredor entre nossas camas.
Estava
furiosa com isso, queria ver a hora quando acordava e não podia por o
relógio estar completamente fora do ângulo de visão da minha cama. Ter
que levantar todos os dias para consertar isso era chato, queria
continuar na minha cama debaixo do meu lençol e com olhos fechados até a
hora de levantar. Para alguém com insônia como eu, essa é uma péssima
ideia de se fazer.
Houve um dia em que não aguentei mais, fui
tomar satisfações com minha irmã e brigar por ela virar sempre o relógio
para ela. Minha intenção era apenas de fazê-la parar, surpreender-me
estava fora dos meus planos. A resposta dela foi surpreendente e ao
mesmo tempo assustadora.
– Eu não estou virando relógio algum! – dissera.
Se
não era ela, quem era então? Esta pergunta me deixava pasma, pensar na
única possibilidade restante era aterrorizante. Não podia ser alguém de
fora do quarto, pois se alguém entrasse, eu acordaria no mesmo instante;
e também não era minha irmã, restando apenas algum ser sobrenatural!
Depois
da resposta de minha irmã, eu também não sabia mais o que dizer a ela.
Continuei meu dia como se nada tivesse acontecido, não havia nada a
fazer ou falar. Eu me esqueci do acontecimento por aquele dia, mas me
lembro que no dia seguinte o relógio não amanheceu virado para minha
irmã, ele estava completamente normal.
Desse dia em diante, nunca
mais esse fato se repetiu. Não sei dizer o porquê, apenas sei que o
ocorrido cessou de repente, assim como começara. Essas foram as minhas
duas ou três semanas mais estranhas de 2004, lembro-me como se fosse
hoje ainda...
Talvez o fantasma estivesse brincando com a minha
cara e testando a minha paciência ou talvez não, não sei dizer. Acredito
que ele more no meu quarto até hoje, pois outros acontecimentos
estranhos como esse e algumas sensações ainda ocorrem. Às vezes tento
acreditar que é apenas coisa da minha cabeça, mas é realmente muito
difícil. Vivo minha vida ignorando tudo, esse foi meu jeito de afastar
isso de mim, ou pelo menos não ter medo.
Se algo semelhante já
lhe aconteceu, tome cuidado, pode ser o mesmo fantasma daqui de casa ou
algum outro. Neste caso, sendo outro, suas intenções podem ser piores
que uma simples brincadeira como foi comigo. Os daqui de casa parecem
apenas quererem brincar, amedrontar-me ou testar minha paciência, mas os
de sua casa podem ser diferentes, talvez mais dóceis ou mais cruéis,
então é sempre bom tomar cuidado.
Espero que jamais tenha lhe
acontecido isso com você, eles não costumam largar de nossas casas uma
vez que se apossem, então desejo boa sorte àqueles possuidores de uma
companhia fantasmagórica como eu.
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